LIPIDOFOBIA – O Medo de Ingerir Gordura

LIPIDOFOBIA – O Medo de Ingerir Gordura

A Lipidofobia ou medo de comer gordura está enraizado na mentalidade de grande parte da população atual e provavelmente, tu não és exceção!

Esta fobia levou a uma corrida desenfreada em busca de produtos light ou de produtos com percentagens reduzidas de gordura.

Atualmente a maioria das pessoas tem pavor de comer gordura (lípidos) e pensam que a obesidade se deve a um consumo exagerado deste macronutriente!

Mas, a verdade é outra…

Comer gordura não te torna mais gordo!

A epidemia de obesidade que está a invadir o mundo resulta, essencialmente, da ingestão de quantidades elevadas de hidratos de carbono!

O que acontece no teu organismo, quando ingeres hidratos de carbono?

• Os hidratos de carbono depois de digeridos são reabsorvidos para a corrente sanguínea, sob a forma de glicose;

• Os níveis de glicose (açúcar) no sangue aumentam;

• A subida dos níveis de glicose conduzem a um aumento da produção de insulina, pelo pâncreas;

• A gordura que ingeres às refeições é acompanhada por uma elevada quantidade de hidratos de carbono, e por isso fica armazenada nas células, como triglicéridos, que em níveis elevados são responsáveis pelo aparecimento de placas ateromatosas tanto nos vasos sanguíneos, como na paredes das artérias;

• A elevada quantidade de glicose armazenada nas células contribui para aumentar a percentagem de gordura corporal.

O que acontece no teu organismo, quando ingeres boas gorduras?

• Quando ingeres mais lípidos e menos hidratos de carbono ocorre uma fraca reabsorção destes hidratos de carbono, o que se traduz numa menor quantidade em circulação;

• Os níveis de glicose (açúcar) na corrente sanguínea permanecem mais baixos;

• O pâncreas não necessita produzir tanta quantidade de insulina, o que contribui para a diminuição dos picos desta hormona (insulina), que assim se mantém em níveis mais reduzidos no teu organismo;

• Com níveis mais baixos de glicose, o teu organismo utiliza os lípidos (gorduras) que ingeres, para produzir a energia que necessitas;

• Além disso, também recorre ao consumo de gorduras armazenadas nas células, como fonte primária de energia;

• As tuas reservas de gordura estão continuamente a ser utilizadas, ocorrendo uma diminuição natural dessas reservas;

• A diminuição das tuas reservas de gordura traduz-se numa diminuição da percentagem de gordura corporal.

Desde 1977, que as recomendações dietéticas apontam que o consumo de gordura saturada:

• Aumenta os níveis de colesterol sanguíneo;

• Aumenta o risco de doenças cardíacas;

• Está na origem do aparecimento de aterosclerose.

No entanto, estas recomendações apenas foram baseadas em teorias e nunca foram devidamente comprovadas.

Os estudos atuais revelam exatamente o contrário!

O colesterol abandonou o estatuto de vilão, para adquirir o estatuto de herói!

Quando se fala em colesterol, não se pode analisar os seus níveis individualmente, ou seja, não basta olhar para o valor de colesterol total.

Porquê?

Porque não te podes esquecer que as frações de colesterol são igualmente importantes e é preciso tê-las em consideração:

• Colesterol HDL – intitulado de “colesterol bom” e que está associado a um risco reduzido de doença cardíaca;

• Colesterol LDL – intitulado de “colesterol mau” e que está associado a um risco elevado de doença cardíaca.

Relativamente ao Colesterol HDL, as opiniões são unânimes no que respeita aos níveis adequados deste parâmetro, ou seja, quanto mais elevado for o nível de HDL, mais benefícios tens!

Quanto ao Colesterol LDL, a situação não é assim tão simples, pois ele é formado por subunidades…

As descobertas apontam que ele só é prejudicial se for constituído por partículas pequenas e densas, pois trata-se de partículas de LDL oxidadas, que são prejudiciais ao organismo.

Se a fração de Colesterol LDL for constituída, predominantemente, por partículas grandes, ele não é considerado “mau colesterol”, visto não se encontrar oxidado.

Assim, está comprovado que a ingestão de gordura não é responsável pela oxidação do Colesterol LDL.

Consequentemente, quem segue uma dieta rica em boas gorduras e pobre em hidratos de carbono, certamente possuirá a sua fração de Colesterol LDL constituída por partículas grandes e flutuantes.

Isto significa que mesmo que se observe um ligeiro aumento dos níveis de Colesterol LDL, esse aumento não tem que ser obrigatoriamente prejudicial!

Existem provas de que o colesterol dietético, ou seja, o que provém dos alimentos que ingeres, não tem correlação direta com o colesterol sanguíneo.

Mais, sabe-se que se não ingerires colesterol suficiente na tua alimentação, o fígado irá produzi-lo em quantidades superiores, pois através de um mecanismo de compensação tenta produzir o está em falta!

Um pouco de História e alguns Relatos de Experiências…

Na década de 1950, um pesquisador chamado Ancel Keys formulou a chamada hipótese lipídica, que relacionava o consumo de gordura com o aumento dos níveis de colesterol sanguíneo e como consequência, o aparecimento de doenças coronárias.

A indústria que mais beneficiou com esta hipótese foi, sem dúvida, a indústria dos óleos vegetais, que passaram a promover e a financiar várias pesquisas que condenavam o consumo de gorduras saturadas, de origem animal!

Para além de Ancel Keys, surgiu um outro defensor de dietas pobre em gordura…

Chamava-se Nathan Pritikin e defendia uma dieta baixa em gorduras, sem açúcar, sem farinhas refinadas (brancas) e isenta de alimentos processados.

Pritikin recomendava a ingestão de grãos integrais e de alimentos crus e frescos, acompanhados de uma vigorosa rotina de treino físico.

Constatou-se que os seus seguidores perdiam peso, baixavam os níveis de colesterol sanguíneo e apresentavam valores inferiores de pressão sanguínea.

Ele não entendeu que estas metas foram alcançadas porque retirou da dieta alimentar dessas pessoas, açúcares, farinhas refinadas e alimentos processados!

Assim, ao haver redução do peso corporal ocorreu também uma diminuição tanto dos níveis de colesterol, como de pressão sanguínea.

Mais tarde, ele acabou por descobrir que ao fim de algum tempo, a redução de gordura na dieta alimentar, conduzia a vários problemas de saúde, tais como:

• Falta de energia, dificuldade de concentração, depressão, deficiência de sais minerais e de vitaminas e até aumento dos níveis de colesterol.

A dieta alimentar pobre em gordura de Pritikin não o salvou de padecer de leucemia!

Ele acabou por se suicidar na flor da idade, quando verificou que a sua dieta milagrosa não teve carater preventivo, nem curativo, em relação ao cancro que lhe apareceu.

Atualmente, não existe suporte científico que apoie o argumento de que uma dieta baixa em gordura saturada e pobre em colesterol, reduza a epidemia de doenças cardíacas e cancerígenas.

Michael DeBakey, um famoso cirurgião cardiologista examinou 1700 pacientes com endurecimento arterial (aterosclerose) e não verificou nenhuma relação entre os níveis de colesterol sanguíneo e a incidência de aterosclerose.

Alguns estudos demonstraram que indivíduos que ingeriam manteiga pura apresentavam um risco reduzido em 50% de desenvolver doença cardíaca, quando comparados com indivíduos que consumiam margarina (de origem vegetal).

No estado da Califórnia do Sul, uma pesquisa efetuada em adultos não encontrou correlação entre os níveis de colesterol sanguíneo e uma dieta alimentar, essencialmente, composta por carnes vermelhas, gorduras animais, manteiga, ovos, leite integral, bacon, linguiças e queijos.

Vários estudos demonstraram que o leite materno é o melhor alimento do mundo!

Sabias que ele é composto por 54% de gordura saturada e possui uma percentagem mais elevada de colesterol que, praticamente, qualquer outro alimento?

Todos conhecem as inúmeras vantagens que o leite materno apresenta para a saúde e crescimento dos bebés e apesar da sua composição em gordura saturada e colesterol, ninguém tem medo de o dar a recém-nascidos!

Atualmente, vários estudos realizados relacionam dietas com pouca gordura saturada e consumo de leite à base de soja (desprovido de colesterol), com perturbações do desenvolvimento em crianças.

Os Massais e outras tribos de África alimentam-se à base de leite cru, sangue e carne e possuem níveis saudáveis de colesterol sanguíneo, não manifestando doenças cardíacas e muito menos aterosclerose.

Os Esquimós consomem gordura saturada em quantidade elevada, proveniente de animais, como focas, ursos, salmões e outros peixes gordos e não padecem de doenças, sendo incrivelmente fortes e saudáveis.

Os Franceses ingeriam bastante gordura saturada e vinho tinto e eram um dos povos com menor incidência de doenças cardíacas, o que esteve na origem do Intitulado “Paradoxo Francês”.

No entanto, nos últimos tempos os seus hábitos mudaram…

Eles diminuíram o consumo de gordura saturada e passaram a ingerir uma quantidade superior de açúcares e farinhas refinadas.

Esta mudança negativa pode estar, eventualmente, relacionada com toda a propaganda feita contra o consumo de gordura, o que despoletou o aparecimento de muitas doenças degenerativas!

Os habitantes de Creta são conhecidos pela sua ótima saúde e longevidade, baixa incidência de cancro do cólon e de cancro da mama, sendo consumidores de grandes quantidades de gordura animal.

Os habitantes de países, como a Suíça, a Áustria e a Grécia apresentam índices de longevidade elevados e seguem dietas alimentares ricas em gordura!

Os Japoneses, entre todas as nações do mundo, são os que possuem maior esperança média de vida e ao contrário do que se constava, a sua dieta não é pobre em gorduras…

Apesar de consumirem arroz, ingerem quantidades muito reduzidas de óleos vegetais, farinhas refinadas e alimentos processados, comem muitos ovos, carne de porco, carne de vaca, frango, frutos do mar e vísceras!

Vários Pesquisadores da Universidade de Maryland analisaram todos os dados que indicavam haver correlação entre o consumo de gordura e o aparecimento de doenças cardíacas e de vários tipos de cancro…

Concluíram que o que está efetivamente relacionado com o aparecimento de cancro é o consumo de gordura vegetal (gordura trans) e não o consumo de gordura animal!

Espero que depois de tudo o que leste até aqui, percas o medo de comer boas gorduras!

Vantagens do consumo de gordura saturada:

• As nossas membranas celulares são constituídas por 50% de gordura saturada (1), por esse motivo ela é essencial e imprescindível para a formação e manutenção da estrutura celular;

• A gordura saturada é importante para a síntese de várias hormonas, especialmente para a produção de testosterona;

• Protege o fígado do álcool e de outras toxinas;

• Fortalece o sistema imunitário;

• Contém ácido esteárico e ácido palmítico, que são nutrientes essenciais ao bom funcionamento do coração;

• Reveste o coração que utiliza essa gordura, em situações de estresse;

• Favorece o transporte de vitaminas lipossolúveis, tais como: vitaminas A, D, E e K;

• Contribui para aumentar os níveis de Colesterol HDL (“colesterol bom”);

• Desempenha funções importantes, no que respeita à síntese enzimática;

• Fornece energia, principalmente, para quem tem uma atividade física intensa e vigorosa;

• Funciona como um fungicida e oferece proteção contra o aparecimento de determinados vírus;

• Contribui para a prevenção do aparecimento de cancro. Uma dieta rica em gordura e pobre em hidratos de carbono, promove a produção de corpos cetónicos, que funcionam como um combustível mais limpo para as células!

• Melhora a assimilação do ómega 3, por parte dos tecidos;

• Favorece a perda de peso. A gordura mantém-nos saciados por maiores períodos de tempo e não sentes necessidade de “beliscar” alimentos, constantemente;

• ….

Então se comer gordura, não vou “entupir” as minhas veias com colesterol?

Não, pois não existe nenhum estudo clínico que comprove que o colesterol danifica as artérias!

Os vasos sanguíneos podem ser danificados por radicais livres, vírus, processos de inflamação ou pelo enfraquecimento da sua própria estrutura.

Quando alguma destas situações acontece, o colesterol entra em cena para reparar os estragos feitos. É por esse motivo que o colesterol deve ser considerado um aliado na reparação dos vasos sanguíneos!

Além de cumprir a sua função de reparação, ainda funciona como um marcador!

Quando algo não está bem no organismo, os seus níveis aumentam de forma anormal!

Isso dá um alerta para a existência de processos inflamatórios nas paredes dos vasos sanguíneos!

Já referi isto várias vezes, mas considero importante reafirmar que o nosso fígado pode produzir de 3 a 6 vezes mais colesterol que o obtido através da nossa alimentação.

Por isso, se não ingerires colesterol proveniente dos alimentos, o fígado através de um mecanismo de compensação, irá produzi-lo em excesso!

Conclusão

Todos os óleos vegetais, margarinas ou gorduras que sofram processos de extração, hidrogenação ou homogeneização industrial, são consideradas gorduras transformadas (gordura trans), capazes de produzir efeitos negativos na saúde!

Neste contexto incluem-se margarinas, óleos de origem vetetal, como óleo de girassol, óleo de colza, óleo de milho, entre outros.

A gordura saturada animal é a mais benéfica para a nossa saúde!

O meu conselho é que consumas gordura, proveniente de animais criados a pasto!

Os animais que se encontram confinados possuem uma alimentação à base de farinhas e de cereais processados e, por isso, possuem várias toxinas acumuladas na sua gordura.

Compreendo que não seja fácil, nem sequer económico comprar carne de animais criados a pasto, o que de certa forma nos “obriga” a consumir carne, cuja gordura possa conter toxinas…

Mas isso também acontece com muitos outros alimentos que ingerimos:

• A maioria dos legumes, tubérculos e frutas que ingerimos, contém pesticidas e agrotóxicos;

• Muitos dos cereais, como o trigo, o centeio e o milho são geneticamente modificados;

• A maioria do peixe que tens à disposição é de aquacultura, sendo alimentado à base de farinhas processadas. O peixe selvagem, se bem que melhor, também contém muitos poluentes, presentes nos mares e oceanos.

Perante este cenário, cabe-nos ter bom senso e escolher o “melhor entre o pior” para que seja possível viver bem e com saúde!

Utiliza a banha de porco e a manteiga para cozinhar!

Em relação às gorduras de origem vegetal apenas deves consumir coco, óleo de coco, abacate e azeite extra-virgem!

Se optares por um regime alimentar rico em gordura saturada, irás beneficiar de inúmeras vantagens, que já foram descritas anteriormente, mas atenção…

Há uma coisa que terás que fazer, obrigatoriamente!

Excluir a maioria dos hidratos de carbono a que estás habituado!

Consumir gordura vegetal hidrogenada e alimentos processados é totalmente incompatível para a saúde!

Não sofras de lipidofobia!

Consome gordura saturada e elimina toda a gordura vegetal hidrogenada e todos os alimentos processados da tua alimentação.

Termino com uma citação:

“Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas.” (Antonio Lobo Antunes)